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Resenhas de artigos 

DENISE, Pereira Vasco Marinho et al. Associação entre parto cesáreo e excesso de peso em crianças menores de quatro anos de idade. In: Cuba Salud 2018. 2017.

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa ideal de cesárea de um país deveria permanecer entre 10 e 15%. Entretanto, esta cirurgia, considerada complexa, está se tornando cada vez mais frequente em países em desenvolvimento, podendo passar de 50%. Então, para conseguirmos mensurar melhor essa porcentagem, vamos pensar em comparações: no continente europeu essa taxa é em torno de 22%, já nos Estados Unidos da América, é em torno de 32%. Só o Brasil tem mais que o dobro da taxa da Europa, ou seja, mais de 50%. Isso não é assustador?

 

 

O Brasil possui uma taxa muito maior do que o recomendado pela OMS e maior ainda do que as regiões mais desenvolvidas. Além disso, o nosso país é líder no ranking mundial de indicações de cesárea sem indicação médica (sim, sem um motivo concreto baseado na ciência!), ultrapassando 55% e variando a porcentagem conforme o local de nascimento é no sistema público ou no sistema particular.

 

Pensando nos diversos impactos desses números, logo após o nascimento do bebê, as bactérias que vivem no corpo da mãe costumam entrarm em contato com o recém nascido. Denominamos esse evento como colonização bacteriana e o contato com as bactérias maternas tem extrema importância para o fortalecimento do sistema imunológico do bebê, bem como para a composição da sua microbiota intestinal. Ainda, essa colonização pode ser influenciada por fatores como via de parto, aleitamento, uso de antibiótico e peso ao nascer. 

 

Conforme aponta o estudo, bebês que nascem de parto cesárea e parto normal possuem uma diferença na composição da microbiota intestinal. Ainda, a microbiota intestinal está diretamente ligada com o desenvolvimento do sistema imunológico e o seu desequilíbrio pode estar associado a doenças crônicas como diabetes e obesidade. Por isso, identificar fatores de risco, ou seja, aquilo que pode agravar e/ou potencializar um resultado, para prevenir complicações futuras torna-se fundamental e o parto cesáreo é considerado um fator de risco para o excesso de peso no bebê na vida adulta. 

 

Dito isso, o artigo publicado na Convención Internacional de Salud Pública Cuba Salud de 2018, Associação entre parto cesáreo e excesso de peso em crianças menores de quatro anos de idade, de Denise e colaboradores, estudou a relação entre via de parto e obesidade em Feira de Santana, Bahia. Os autores selecionaram, nas primeiras 72 horas pós parto, 793 mães e bebês e conduziram um estudo observacional prospectivo. Quando falamos de um estudo observacional prospectivo queremos dizer que, basicamente, os pesquisadores acompanharão por um determinado período de tempo os participantes, a partir da sua entrada no estudo. 

 

Montamos gráficos, a partir dos resultados apresentados no artigo a fim de uma melhor visualização.. Dos 793 partos analisados no estudo, os pesquisadores obtiveram em torno de 46% de parto cesárea e 55% de parto normal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

Sabendo que houve mais parto normal do que cesárea, precisamos pensar também na variável da amamentação, visto que, conforme já aprendemos na resenha sobre Aleitamento Materno (link da resenha), ela pode ter impacto direto no ganho de peso da criança. Então, o estudo mostra que mais de 70% dos bebês foram amamentados exclusivamente até os 6 meses e 25% não foram amamentados.

 

 

Ou seja, 75% dos  bebês foram alimentados exclusivamente com leite de suas mães até os 6 meses de idade, o que já sabemos que é considerado um fator de proteção contra ganho de peso. Agora vamos pensar… Do total de crianças envolvidas, quantas delas apresentaram excesso de peso até os 4 anos de idade? 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Hum… 40% dos bebês tiveram excesso de peso até os 4 anos de idade. Como o objetivo do estudo é associar via de parto e excesso de peso, desses 40%, quantos nasceram de cesárea e de parto normal? Pois bem! Os autores relatam que, dos que apresentaram excesso de peso, em torno de 52% nasceram de cesárea e 48% de parto normal. Ou seja, sabemos que a maioria com sobrepeso nasceu de parto cesárea. Interessante, não?

 

Podemos observar que, de acordo com o resultado da pesquisa, houve uma prevalência de 24% de excesso de peso nas crianças que nasceram de parto cesárea. Além disso, o não aleitamento materno até os 6 meses foi possível ser associado ao excesso de peso do bebê, mostrando-se como importante  fator de proteção contra o sobrepeso. 

 

Outro dado relevante do estudo é referente ao sobrepeso materno, que chegou aos 39,6%. Aliado a isso, o sobrepeso da mãe se associou com o sobrepeso na criança e, conforme exposto no artigo, estudos mostram que as crianças possuem 50% ou mais de chance de serem obesas se tiverem pais obesos, seja por motivos genéticos ou ambientais - afinal, as crianças se espelham nas atitudes dos adultos e comem o que os adultos preparam, não é?

 

Por fim, o artigo mostrou que existe uma associação do parto cesáreo com excesso de peso, além de chamarem a atenção para a possibilidade da disbiose intestinal na criança estar relacionada a isso. Porém, os autores citam o estudo de Barros et al. que relatou não encontrar associações entre parto cesáreo e excesso de peso, por isso reforçam a necessidade de mais pesquisas serem desenvolvidas para contribuir com o debate científico acerca do tema. 

 

Ufa, conseguimos falar sobre um assunto tão comum e complexo ao mesmo tempo! Já teve contato com essa temática antes? Caso fique alguma dúvida ou sugestão de conteúdo, nossas redes sociais estão disponíveis para vocês.

 

Importante saber:

 

Colonização bacteriana: Refere-se à presença de bactérias em um determinado local do organismo sem provocar resposta ativa do hospedeiro à sua presença.

Disbiose intestinal: Acontece quando a microbiota intestinal está sofrendo algum desequilíbrio de bactérias. Isto é, quando o número de bactérias patogênicas, que fazem mal para o organismo, é superior ao número de “bactérias do bem”.

Estudo observacional prospectivo: O pesquisador está presente no momento da exposição de uma dada população dea um ou mais fatores e a acompanham por um período de tempo para observar um ou mais desfechos.

Microbiota intestinal: Refere-se à população de micro-organismos, como bactérias, vírus e fungos, que habita todo o trato gastrointestinal.


 

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